Por Allan Marques
Esclarecendo a Humanidade acerca do trabalho, informando-nos tratar-se de uma lei divina, e não castigo ou punição, Allan Kardec, na questão 682 de O Livro dos Espíritos indaga se o repouso não é também uma lei da Natureza, tendo respondido os Espíritos Superiores que ele, o repouso, serve para reparar as forças do corpo e também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, apresentando-se, sem dúvida, como lei natural.
A proposta, analisada pelo Dr. Sérgio Lopes, na obra “Leis Morais e Saúde Mental” mostra-se esclarecedora, pois aponta para a importância de “saber parar”, afirmando o psiquiatra espírita que uma pessoa viciada em ter que fazer coisas ocupa seu tempo apenas com trabalho, como que para preencher um vazio interior. Elucida ainda o nobre médico que repousar não se trata apenas de dormir, ficar inerte; muitas vezes repousar é trocar de atividade, proporcionando à criatura o descanso necessário à máquina física.
A partir desse entendimento, de que o repouso é uma necessidade, faz-se imperiosa uma análise do que temos feito com nossas horas livres. O lazer, em muitos casos, tem-se apresentado mais como causa de perturbação do que espairecimento ao Espírito encarnado que carece de reabastecimento das forças para a continuidade das tarefas no planeta.
No livro “Vida e Valores”, editado pela Federação Espírita do Paraná, o médium Raul Teixeira informa que é muito comum, no mundo, confundirmos a alegria com excitação. Afirma ele: sempre que se fala em alegria, tem que se falar em batuques, em folguedos, em bailados, em gritarias, em alcoólicos, e desde alguns anos, em drogas. Daí entendermos o porquê de nos momentos de “lazer” na Terra, inclusive em família, percebermos tanta desordem, barulho, em muitas situações, sem nenhuma preocupação ética, nenhum cuidado estético.
Cabe destacar ponderações interessantes de Joanna de Ângelis, em “Jesus e Vida”, no capítulo intitulado “Comportamentos esdrúxulos”. A benfeitora assinala “o que antes era considerado antiético, deselegante, atraso moral, tornou-se quase rapidamente convencional, normal, cada dia avançando para condutas mais chocantes”. No campo do lazer (desequilibrado) é comum visualizarmos comportamentos estranhos, demonstrando os conflitos íntimos que a criatura carrega e expõe a título de “relaxamento” e diversão.
Outro ponto relevante, ressaltado em “Para uso diário” pelo Espírito Joanes, psicografia de Raul Teixeira, é o vício do demasiado lazer, que leva a pessoa, segundo o amigo espiritual, a desrespeitar a lei do trabalho, atirando-se ao extremo oposto, que leva o corpo orgânico à inação, ao desgaste pela inoperância a que é relegado…Não é difícil visualizar irmãos (e famílias inteiras!) que estão sempre dispostos a “matar” as horas de ocupação útil sob o pretexto do descanso, da necessidade de relaxar um pouco mais, já que “ninguém é de ferro”.
A Doutrina Espírita, nesta questão como em todas as que dizem respeito à nossa jornada terrena, propõe-nos a busca do equilíbrio. Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, a mensagem “O Homem no mundo” indica que devemos viver com os homens de nossa época, como devem viver os homens. Vai mais além: recomenda que sejamos alegres, felizes, mas da alegria que dá uma boa consciência! Imperioso se faz o bom uso da chamada hora vazia, que pode ser preenchida com uma leitura salutar ou uma conversação positiva. O homem, quanto mais preenche os espaços mentais com as ideias do bem, mediante o estudo, a ação ou a reflexão, mais aumenta a sua capacidade e conquista mais amplos recursos para o progresso (Joanna de Ângelis em Episódios Diários).
Enfim, necessitamos, tanto individualmente quanto nos grupos familiares dos quais fazemos parte, manter e estimular o padrão de pensamentos e atitudes pautado na ética, no respeito às leis divinas. Contribuir em favor do bem, inclusive nos momentos de repouso e diversão, discernindo o que nos convêm fazer daquilo que podemos, mas não devemos realizar. Portanto, em questão de lazer, nunca será demasiado o cuidado com as escolhas, com o comportamento saudável, a fim de que o tempo disponível seja direcionado para as conquistas espirituais, tesouros valiosos que dão sentido à nossa passagem pelo mundo terreno.
O AUTOR
Secretário e Coordenador da Área da Família da FEMAR. Trabalhador da área de Estudo. Vice-presidente do Centro Espírita Luz, Caridade e Amor, em São Luís-MA, onde colabora nas áreas de Estudo, DIJ e Comunicação. Expositor espírita.