O Imparcial conversa com presidente e diretor da Femar (respectivamente Osmir Freire e Fabio Carvalho) sobre a prática do médium, os supostos abusos sexuais e suas consequências para ele, as vítimas e o espiritismo.
João de Deus é espírita?
Nós consideramos ele um espiritualista. É preciso não confundir espiritualismo com Espiritismo. O Espiritismo começou com Allan Kardec, com o lançamento de O Livro dos Espíritos, em 1857, e tem seus princípios, que são todos alicerçados na moral de Jesus. espiritualismo é acreditar na existência do Espírito.
Ele não é um médium Espírita no conceito Espírita, porque o Espiritismo não tem rituais e lá [na casa Dom Inácio Loyola] tem. A prática espírita é sempre gratuita, como orienta o Evangelho. Então se tem pagamento, não é Espiritismo. Porque Espírito não recebe pagamento. O médium é apenas o meio, é ele quem traz a informação, ele é apenas um intermediário.
Vítimas e a fraude de fé
A forma como ele atraía as pessoas era para lhes oferecer algo de bom e nunca algo de ruim. Estamos diante de casos que sugerem fraude de fé. As pessoas acreditavam piamente que poderiam ser assistidas espiritualmente e na verdade foram enganadas, porque saíram em situação pior do que chegaram. Vieram com problemas de natureza emocional e saíram com problemas mais graves ainda e isso vai obviamente gerar efeitos naturais. Porque não existe nenhuma ação que não repercuta em alguma reação.
Muitas pessoas renascem com vários problemas, físicos e psicológicos. Porque elas trazem traumas do passado. Então imagina as marcas que ficam no emocional dessas vítimas. Essa recuperação leva séculos. Temos muitos irmãos e irmãs reencarnados que trazem traumas do passado. O fato é que as consequências dos seus atos foram muito graves. Nós temos casos de pessoas que em uma encarnação não conseguirão superar os traumas vivenciados pelas ações supostamente praticadas por ele.
A justiça dos homens
É interessante que a penitência de João de Deus comece pela aplicação das leis humanas. Porque isso naturalmente irá interferir em uma outra encarnação nas aplicações das próprias leis divinas sobre os atos praticados por ele. No caso, digamos que ele foi beneficiado com a oportunidade de responder por seus erros nesta encarnação ao invés de deixar tudo para a próxima vida.
Essa e a próxima encarnação de João de Deus
A Lei de Deus é inexorável. Se ele não responder pela Lei de Deus nesta encarnação, naturalmente responderá nas próximas. Nesta encarnação, seria praticamente impossível ele alcançar a paz de consciência porque ainda que ele venha a se arrepender nesta existência, ele sempre terá memória dos atos que cometeu. Será vítima do julgamento de sua própria consciência. Mas quando reencarnamos, esquecemos do que fizemos em vidas pregressas, o que nos permite começar de novo.
Todos nós erramos
Todos nós temos crimes inconfessáveis do passado. Imaginemos que nós já tenhamos passado pela Igreja Medieval. Que crimes inconfessáveis nós temos à conta de bispos e padres? Que crimes nós temos à pena e à condição de soldados marchando ao lado de Hitler? Esse parece ser, em nossa sociedade, um crime inconfessável. Mas amanhã ele estará em outra encarnação, mergulhado em uma personalidade diferente protegida pelo esquecimento das encarnações que ficaram para trás.
Mas no fundo da consciência, existe o erro. E uma necessidade da reparação desse erro. De compreensão de que as dores que ele vai enfrentar são as expiações resultantes de seus atos e elas todas já são oriundas de um arrependimento que começa a se dar no mundo espiritual, onde ele se deparará com os próprios atos praticados, com os próprios erros no tribunal de sua própria consciência.
E médium e o cidadão
É importante separar o João de Deus médium e o João de Deus cidadão. É como em qualquer profissão: temos o compromisso de sermos moralmente corretos, sejamos médiuns ou não. Todo profissional tem sua moral testada. E todos temos falhas. Por isso precisamos estar constantemente vigiando nossos pensamentos. Por mais que pensemos que estamos sozinhos, Deus sempre testemunha nossos atos, assim como os Espíritos. É de dentro que sai, como diria Jesus, toda a luxúria, vaidade, adultério, mentira.
Julgamento público e Justiça
Às vezes as pessoas que estão assistindo TV são muito mais julgadoras e impiedosas do que o juiz que está aplicando a lei vigente. Se nós formos analisar a nossa compreensão de justiça, imagina um pai com três filhos e um deles acusa os outros dois de terem batido nele. Sendo um pai justo, você acha que é preciso matar os dois filhos que bateram nele? O pai dirá não. Porque é pai, e pai ama. O amor nos leva à justiça. O Espiritismo acredita que justiça, amor e caridade estão interligadas em uma única lei.
*Entrevista concedida a Alan zevedo e publicada em 26 de dezembro de 2018.