Por Fabio Souza de Carvalho
Naqueles dias recuados em que a Mensagem do Reino se espalhava por meio das palavras maviosas do Cristo de Deus, o Meigo Nazareno, em tom profético, anunciou as dores e os sofrimentos que hoje testemunhamos. Pontuou-nos que, em razão do crescimento da iniquidade, o amor de muitos se esfriaria, mas nos alertou ao final:
“Aquele, porém, que preservar até o fim, esse será salvo. E este Evangelho do Reino será proclamado no mundo inteiro, como testemunho para todas as nações. E então virá o fim” (Mt 24:13-14).
Há muita relação entre as angústias individuais e coletivas que ora atravessamos e as falsas promessas de felicidade que nos foram apresentadas pelo materialismo que se grassou ao longo de todo o século XIX, estendendo seus nefastos efeitos pelo século seguinte e que ainda são sentidos nestes primeiros lustros que marcam a alvorada do milênio atual.
Parafraseando o ilustre astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser, professor e pesquisador da Faculdade de Dartmouth, nos Estados Unidos, a cada ano na nave Terra, a humanidade alarga o perímetro de sua Ilha de Conhecimento, avançando paulatinamente em direção ao grande Oceano do Desconhecido que cerca a todos nós.
A erosão do desconhecimento que deu ensejo à aluvião das partículas que, combinadas, formam nossa atual ilha do saber, iniciou-se por aquilo que era mais sensível ao homem: a matéria. Pouco a pouco, o maravilhoso e o sobrenatural, expulsos do domínio da materialidade pela ciência, foi se encastelando num universo só mais tarde desbravado pelo Moderno Espiritualismo.
O Espiritismo, a seu tempo, provou que o elemento espiritual é uma das forças vivas da Natureza e que atua incessantemente e em concorrência com a força material, trazendo à tona um novo sentido para a vida humana ainda sobremodo enclausurada ao ergástulo do modos vivendi materialista.
A era da (des)informação e do consumismo exacerbado, que caracteriza a atual sociedade pós-moderna, vem, a um só tempo, galardoando e aturdindo o homem materialista, sem, contudo, despertá-lo de seu estado de consciência de sono, adrede atestado pelo grande pensador armênio George Gurdjieff.
Nada obstante as incomparáveis conquistas da ciência e da tecnologia, do direito e da ética, o progresso rápido estonteia as personalidades mais frágeis que, não logrando assimilá-lo, são devoradas pela ansiedade, malogrando nas garras cruentas dos psicoativos, da pornografia, da violência, da vulgaridade, esmagadas pelas pressões que se lhes surgem através dos avançados meios de comunicação de massa.
Vivemos uma era de extremos que Eric Hobsbawm teve chance de registrar, naturalmente de forma incompleta, porque o verdadeiro processo de desmoronamento ainda está por vir e se refere ao engalanado e simbólico templo de Herodes, donde não sobrará pedra sobre pedra (Mt. 24:2).
Sob torpes obsessões coletivas, turbas enlouquecidas tentam reproduzir, como se estivessem proclamando a justiça, os impiedosos processos inquisitoriais ou os movimentos que mancharam de sangue a nossa História, a exemplo dos que ensejaram a queda da bastilha parisiense e a hedionda invasão do Palácio de Versalhes no final do século XVIII.
Entretanto, em meio ao opróbrio e ao caos, fulge o inextinguível sol do Evangelho, espargindo luzes coruscantes durante o intenso negrume da passageira madrugada. E para o grande levante, o Cristo nos guia a todos, convocando mais uma vez os cristãos, agora os da hora nova, para o derradeiro holocausto do amor.
Ao lado dos gemidos e do ranger de dentes, é possível escutar, outrossim, o toque dos clarins conclamando-nos ao labor da última hora. As recomendações do bondoso Rabi ao Colégio Apostólico permanecem inalteráveis, e muito embora não haja mais os circos e os patíbulos públicos de outrora, restam os cálices amargos das intrigas e da insensatez, das perseguições e das tentações do mundo, para que sigamos acautelados e conscienciosos.
Os novéis cristãos hão de prosseguir com lucidez e destemor, pois, triunfantes sobre as ilusões do mundo e confiantes no Bom Pastor, não mais tergiversarão com as sombras, e com generosa simplicidade, cumprirão com devotamento e dedicação o trabalho que lhes compete realizar.
Recordemos que após as enobrecidas lições deixadas por três anos ininterruptos de trabalho, Jesus, vencendo a morte, reuniu os onze discípulos, e censurando-lhes a incredulidade e a dureza de coração, os exortou ao serviço dizendo: “Ide por todo mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16:15).
Guardemos, portanto, a mesma fé que animou os cristãos da primeira hora, certos de que, no estudo e na divulgação do Evangelho Redivivo e na vivência do divino amor, alcançaremos a ágape da alvissareira partilha do pão e do vinho ao lado do Cristo, o Nosso divino amigo e Senhor.
O AUTOR
Fabio Souza de Carvalho é Diretor da Unificação da FEMAR e Secretário da Comissão Regional Nordeste (CFNE/FEB)