Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (Jesus – João 16:33)
Por Osmir Freire
No conceito comum, aflição significa um estado de profunda tristeza, mágoa ou desgosto, ansiedade, angústia. Na visão espírita, temos como oportunidades de reajuste perante a Lei de Deus, sendo necessário compreendê-las e aceitá-las como lições valiosas. Cada criatura tem a aflição que lhe é própria.
De acordo com Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, “as vicissitudes da vida têm, pois, uma causa e, visto que Deus é justo, essa causa há de ser justa.” As causas das aflições podem se encontrar na atual existência ou remontar de tempos recuados, quando o homem, fazendo uso do livre-arbítrio, se comprometeu com as leis naturais.
Em O Céu e o Inferno, Cap. VII, quando trata do Código penal da vida futura, é-nos dito que “o bem e o mal são voluntários e facultativos; sendo livre, o homem não é fatalmente impelido nem para um, nem para outro.” (KARDEC). Importante considerar, então, que a maioria dos males humanos, que constituem verdadeiros tormentos, derivam de atos do presente, frutos da imprudência, do orgulho, da vaidade, da ambição e dos excessos de toda ordem, conforme assinala o Evangelho. Assim, os tormentos voluntários são em número bem maior do que os tormentos determinados pela lei de causa e efeito.
As aflições são, portanto, fruto das imperfeições humanas, consequências das escolhas equivocadas do homem em qualquer época, durante sua trajetória evolutiva. O sofrimento, sendo o padecimento de uma dor física, moral, emocional ou psicológica, está intrinsecamente relacionado ao processo de evolução do Espírito, enquanto prevalecer a natureza animal sobre a natureza espiritual do ser.
A Pedagogia Divina dispõe de inúmeros recursos para dinamizar nosso processo evolutivo, respeitando e seguindo os ditames da Lei do Progresso, a que tudo e todos estão submetidos. A nós, cabe o exercício do livre-arbítrio que trabalhará em favor de nossa rápida ou lenta ascensão, ou ainda como é pontuado em O Céu e o Inferno:
Às penas que o Espírito sofre na vida espiritual vêm somar-se as da vida corpórea, que são consequentes às imperfeições do homem, às suas paixões, ao mau uso das suas faculdades e à expiação de faltas presentes e passadas. É na vida corpórea que o Espírito repara o mal praticado em existências anteriores, pondo em prática resoluções tomadas na vida espiritual (KARDEC).
Desse modo, sendo filhos de Deus, fomos criados simples e ignorantes, tendo como objetivo e meta chegar à perfeição, fazendo uso do livre-arbítrio e do esforço próprio, contando sempre com os mecanismos de apoio e segurança oferecidos por Deus. Lembramos, contudo, que no âmbito do código divino não existem privilégios a ninguém, assim, cada criatura humana colherá o fruto decorrente da semente plantada, recebendo o reflexo de cada ação praticada.
Compreendendo que tudo o que nos acontece é para o nosso bem, devemos procurar a melhor forma de conviver em cada situação que se apresente. Temos de ter uma visão positiva da vida. A Doutrina Espírita colabora muito com essa percepção, na medida que revela as leis de Deus, facilitando a compreensão de tudo que se dá conosco.
Nos flagelos, como nesta pandemia que afeta toda a Humanidade, as pessoas se mostram solidárias, se juntam para se ajudarem e se surpreendem com o resultado positivo dessa união. O isolamento tem sido uma oportunidade para refletirmos sobre a vida, ocuparmos bem o tempo com atividades nobres, enriquecedoras e nos dedicarmos mais à família.
É natural que o medo abale muitas pessoas em decorrência de um flagelo, mas deve ser bem administrado, para não gerar pânico e, assim, paralisar a pessoa. O medo deixa a pessoa em situação de vulnerabilidade, porque ataca as suas defesas. Devemos nos educar com a visão espiritual da vida, nos estimulando na coragem e na fé, sabendo que não estamos sozinhos, tampouco desamparados. Jesus está no comando de tudo.
Aproveitemos a tecnologia para ocupações construtivas, atualizações e aprimoramentos, em temas de nosso interesse, usando o meio virtual. Além dessas reflexões, é recomendável a prece por nós mesmos e especialmente a prece solidária, que pode ser dirigida a todos aqueles que podem ser alcançados pelos nossos pensamentos, como familiares e amigos, profissionais que auxiliam os doentes e os que sofrem.
O AUTOR
Presidente da Federação Espírita do Maranhão (2019-2022).