O presidente da FEMAR, Osmir Freire, aborda, na entrevista a seguir, a atuação do Movimento Espírita durante a pandemia da Covid-19. Ele ressaltou que as Casas Espíritas trabalharam através dos ambientes virtuais, o que ampliou o número de participantes nos eventos e formações. Essas iniciativas levaram o conhecimento da Doutrina Espírita a novos públicos, o que consolou muitos corações durante o isolamento e os momentos mais difícies da pandemia.
Primeiramente, gostaria de saber, qual a importância da sua doutrina para um contexto de crise mundial de saúde?
Em qualquer crise, a Doutrina Espírita muito colabora ao revelar os princípios da lei de Deus, dentre os quais o da existência de Deus, Reencarnação e a Lei de Causa e Efeito.
O Espiritismo nos mostra que Deus está no comando de tudo e que nada acontece sem a sua permissão. Jesus é o governador espiritual da Terra, guia e modelo apresentado por Deus para toda a Humanidade.
As crises, os flagelos, não aparecem por acaso, mas para acelerar o progresso moral das criaturas humanas. O homem já avançou consideravelmente no campo intelectual, entretanto, pouco se adiantou nos valores morais. Isto justifica o nível de violência que ainda se observa, o desprezo pela natureza, a indiferença para com o sofrimento e as dificuldades do próximo, especialmente os que vivem sem proteção do Estado, a mercê apenas da caridade alheia. E os flagelos acontecem justamente para levar o homem a refletir mais sobre a sua destinação espiritual, ávido ainda pela posse de bens materiais, que aqui chegou desprovido deles e não levará nada quando retornar.
O fato de você saber as causas do sofrimento faz uma grande diferença, sendo um estímulo ao consolo e à resignação.
Os flagelos levam as pessoas a refletirem mais sobre a vida, se mostrarem mais solidárias. O isolamento social tem favorecido esta postura, assim como a ocupação do tempo com atividades nobres, enriquecedoras e maior dedicação à família.
Com a pandemia, acredito que vocês ficaram impossibilitados de realizar encontros presenciais. Como foi contornada essa situação?
Investimos nos encontros virtuais. Não deixamos de atender à lei de Deus, praticando a caridade, ao mesmo tempo atendendo à lei humana, obedecendo às recomendações constantes dos protocolos elaborados pelos governos, com base nas orientações das autoridades da área da saúde.
Com as reuniões virtuais a participação do público se multiplicou. As casas espíritas fecharam as portas físicas, mas outras se abriram para o mundo, aumentando as possibilidades de comunicação, permitindo que as pessoas, no modo virtual, participem de quase todas as atividades desenvolvidas presencialmente. Enquanto se falava antes para um público em média de 100, 200 pessoas, hoje os participantes são em termos de milhares. E ainda com os eventos gravados e colocados à disposição para quem desejar ver posteriormente. Sendo assim, o número dos que assistem aumenta a cada dia, com esses acessos.
Do ponto de vista econômico, também houve uma melhoria, porque os palestrantes não precisam se deslocar fisicamente para as cidades que os contratam, pois falam de suas residências, sem qualquer custo. Isto facilitou e aumentou a participação dos palestrantes, pois não perdem tempo com deslocamentos. Não há gastos com hospedagens, restaurantes e com aluguel de espaços físicos para a realização dos eventos. E o público não paga para participar, pois não havendo custos, os eventos são gratuitos.
Importante refletir que toda vez que um flagelo desses aparece, Deus dá ao homem as condições para combatê-lo. Antes mesmo de surgir essa pandemia, Deus favoreceu a Humanidade com o desenvolvimento das comunicações. Fisicamente ficou isolado, porém se comunicando com o mundo, como jamais tinha feito.
Houve um interesse maior pela religião nesse momento de pandemia?
Sim, porque o medo da morte faz o homem buscar o transcendente. O isolamento social o forçou a viajar para dentro de si mesmo e para Deus. Isto o faz refletir muito na vida e também o aproxima mais da família e das pessoas. Apesar do isolamento social, nunca o Movimento Espírita trabalhou tanto quanto agora. Acreditamos que o mesmo esteja ocorrendo com outras instituições religiosas.
Quais ações foram realizadas nesse período? Quais serão as próximas?
Realizamos reuniões de trabalho, palestras, cursos, congressos, basicamente tudo o que era apresentado de modo presencial. De destaque o curso virtual de atendimento fraterno, oferecido em duas oportunidades para as casas espíritas da capital e do interior. Esse curso capacita o trabalhador espírita a atender, virtualmente, as pessoas com algum tipo de conflito.
Continuaremos realizando os mesmos eventos, apresentando temas que possam contribuir com as pessoas a superarem o medo, a ansiedade e a depressão. À medida que o risco de contaminação for diminuindo e conforme as orientações das autoridades ligadas à saúde, iremos retornando aos poucos às atividades presenciais, mas sabendo que a modalidade virtual continuará sendo utilizada, face às muitas vantagens que apresenta, em função do aumento significativo do público beneficiado, sem barreiras geográficas e com o mínimo de custo econômico-financeiro, de pessoal e de materiais empregados.
São boas as expectativas de trabalho para o ano de 2021. Já se sabe que a modalidade virtual veio para ficar, ou seja, mesmo quando as atividades presenciais se normalizarem, as ações virtuais permanecerão, considerando atenderem a um segmento populacional que tem dificuldades para se deslocarem até uma instituição física, considerando dificuldades pessoais de movimentação, como no caso de na cidade ou região não existirem casas espíritas. Em muitas cidades brasileiras não contamos ainda com centros espíritas e, fora do Brasil, a deficiência ainda é maior, porque o Brasil é o país que conta com o maior número de espíritas e de instituições espíritas.
O isolamento social forçado pela pandemia, e o risco de contaminação que ainda é grande, fez que as pessoas passassem a muito refletirem sobre Deus, sobre a vida e a família. Isto tem melhorado o desejo de aproximação, de melhoramento das relações e o sentimento de solidariedade.
Já é normal esse período de fim de ano e início de ano novo, favorecer e muito o sentimento de amor ao próximo, de esquecimento das ofensas, a facilidade de se conceder o perdão e de auxiliar o irmão em dificuldade.
Então, que nesta época possamos manter a fé e a confiança em Deus e na vida, renovar as esperanças em dias melhores, que certamente virão, fortalecidos que estamos pelas vibrações positivas que o pensamento em Deus e em Jesus nos proporciona, nesta época do ano, nos renovando o ânimo para continuarmos vencendo as lutas e os desafios existenciais que se nos apresentam, e que possamos construir um mundo melhor, de paz, prosperidade e de muito amor ao semelhante.
*A entrevista foi concedida a Kethlen Mata, repórter do jornal O Estado do Maranhão, de São Luís-MA. Foi publicada no dia 28/12/2020.