*Marta/Marcel Mariano
Frequentemente causa estranheza aos discípulos do Evangelho o aparente triunfo dos indignos no comando do mundo. Ditadores parecem se perpetuar no poder, esmagando as sociedades com seus gestos desumanos.Astutos e corruptos exibem impressionante impunidade no circuito político em que se movimentam, sempre a promoverem variados escândalos de natureza financeira, a benefício próprio.Religiosos hipócritas, a se valerem de suas ascendências morais sobre ovelhas desprevenidas e ingênuas, lhes extorquindo vultosos valores monetários, a lhes manter na servidão e no medo.Gestores da coisa pública, absolutamente indiferentes para com o bem coletivo, a saírem ilesos de mandatos onde apenas se locupletaram no mando despótico e na avareza desmedida.Onde os bons que não reagem?
Onde o braço divino, que não os remove dos cenários terrestres pela morte, abrindo espaço para líderes sensíveis ao sofrimento humano?Por que a causa do Evangelho ainda permanece distante da sua vivência das almas sedentas de paz e justiça social? Estes, como aqueles, são dias desafiadores, prenhes de mudanças incessantes, a nos desafiarem o raciocínio. As horas se sucedem e para o túmulo todos são chamados na sua hora, apresentando ao Senhor da vinha o fruto de seus labores. As maquinações e empresas erguidas pelos invigilantes são desfeitas vagarosa ou demoradamente pelo tempo, carreando lições que algumas vezes somente as gerações futuras se darão conta.
A Terra ainda está assinalada pela sua inferioridade moral, onde trânsfugas e déspotas do ontem retornam ao poder passageiro para exercitarem a massa inconsciente e letárgica, servindo de impulso aos propósitos divinos da grande mudança, que ora se opera em variados quadrantes do planeta em estertor contínuo.Quando o amor é negligenciado, a dor surge como mestra infatigável, lecionando ao aluno displicente a lição esquecida ou aviltada. E, não obstante as dores coletivas e individuais, o planeta avança para seu desiderato, que é o de se tornar estância de regeneração e pouso para as almas exaustas de sofrer a agudeza da lâmina da própria ignorância, levantando-se de sua inércia e comodismo para o trabalho inadiável do próprio burilamento.
Ninguém pode driblar as leis divinas, nem delas fugir continuamente. Ao infrator reserva-se a corrigenda e a educação dos sentidos, impondo revisão da rota que imprimiu aos próprios pés.Está assinalado por Ele em Seu Sermão da Montanha que os mansos herdarão a Terra, Ele só não disse quando.Compete aos filhos de Deus, brindados com a mensagem da Boa Nova, deixarem de reagir contra o mal usando outras ferramentas malsãs. Aquele que adotou as diretrizes do Evangelho nunca reage, age.Silencia para melhor refletir em sua ação no mundo. Sopesa sempre os efeitos colaterais que suas atitudes poderão causar em terceiros.Coloca o bem coletivo acima do bem individual.Reconhece que está no mundo como um peregrino em trânsito por escola educativa da alma, e por isso mesmo usa as coisas do mundo sem a ele se agarrar.Tem consciência de que seu verdadeiro lar não se ergue na poeira da vida material, mas sim o aguarda além das cinzas misérrimas da morte, após o triunfo sobre si mesmo na arena dos embates existenciais.
E adotando Jesus como modelo e guia, a cada dia se ergue do leito e nele se deita à noite, exausto, portando na alma a mesma inquietante interrogação:- Que teria feito Jesus hoje se estivesse em meu lugar? Em descobrindo num rigoroso exame de consciência que se equivocou, roga a Deus nova chance e na manhã seguinte se põe outra vez à disposição do alto, em transporte de ventura e bom ânimo, a dizer-se intimamente:- Senhor, que queres que eu faça?Assim, transporá os dias nevoentos e tumultuados de agora, edificando em si mesmo os marcos do reino de Deus, a resplandecerem em bênçãos de paz e harmonia íntima.
Salvador-BA, 25 de agosto de 2020
*Marta é autora espiritual. Marcel é trabalhador da Federação Espírita da Bahia (FEEB) e do Centro Espírita Caminho da Redenção. É voluntário da Campanha Você e a Paz.