A coordenadora do Departamento de Assistência e Promoção Social Espírita da FEMAR , Shirley Coimbra da Cruz, explica na entrevista a seguir as característica da área e a relevância das atividades, que devem ser construídas à luz da caridade ensinada pelo Evangelho de Jesus. Outro destaque é a necessidade das casas espíritas conhecerem as leis existentes que regulam a Política de Assistência Social no Brasil para que o trabalho seja mais efetivo.
Quais os objetivos principais da Área de Promoção Social Espírita, a APSE?
– Criar espaços de convivência que favoreçam o processo evolutivo do Espírito encarnado através do trabalho, da benevolência e da fraternidade, com vistas à transformação da sociedade pelo pleno exercício da caridade como a entendia Jesus.
– Proporcionar ao frequentador e ao trabalhador do Centro Espírita “oportunidade de exercitar o seu aprimoramento íntimo pela vivência do Evangelho” junto aos indivíduos e aos trabalhos da área de Assistência e Promoção Social Espírita (APSE). (Documento de Orientação ao Centro Espírita – OCE, Cap. VIII, item 3-b)
– Atender às pessoas e às famílias, em vulnerabilidade e risco social, que procuram o Centro Espírita, ou que, por algum modo, possam ser abrangidas pela ação comunitária desenvolvida pela instituição, conjugando-se a ajuda material, o socorro espiritual e a orientação moral-doutrinária, com vistas à sua promoção social e crescimento espiritual.
Como diferenciar projetos da APSE do trabalho social do Poder Público, como Prefeitura e Governo Estadual?
Neste ponto, Deolindo Amorim esclarece o seguinte na obra O Espiritismo e os problemas humanos, assinada junto com Hermínio Correa de Miranda: “Há, entretanto, uma distinção conceitual entre assistência social e serviço social. A seara espírita engloba muitas formas de trabalho em benefício dos sofredores do corpo e da alma, o que provoca muitas vezes iniciativas momentâneas ou de emergência pela gravidade ou premência das circunstâncias. É um ímpeto de auxílio todo espontâneo, ainda que apresente feição empírica em determinados casos, porque obedece mais ao sentimento do que às normas metodológicas. Mas a necessidade pode estar no corpo (doença, fome ou debilidade) como pode estar na alma (depressão, desespero ou perturbação obsessiva), o que exige, às vezes, conforme a natureza dos casos, mais desvelo ou mais amor do que propriamente técnica. Sob este ponto de vista, o trabalho espírita presta inestimável serviço à coletividade e ao próprio Estado, embora as suas realizações assistenciais, muitas delas impregnadas de verdadeiro espírito missionário, não tenham todas as características do serviço social no conceito específico. Serviço social não é assistência pura e simples, é uma forma de ação racionalizada, com técnicas, princípios e meios próprios. O serviço social utiliza inquérito, pesquisa de campo, levantamentos grupais. E já é uma profissão, há muito tempo, com aprendizado e currículo adequado”.
Desta forma, é possível concluir que ao Poder Público, nos termos do art. 203 da Constituição Federal de 1988, cabe prestar, por meio de equipe multidisciplinar, com especial ênfase às normas do serviço social, a assistência social a quem dela necessitar. Como as leis humanas são pautadas sob o paradigma materialista, as ações governamentais não visam ao progresso espiritual na proteção, no amparo e na proteção dos destinatários de seus serviços.
Os projetos da APSE não seguem, a rigor, as mesmas técnicas, princípios e meios utilizados pelo Poder Público, porque vão além das providências exteriores. “A cobertura do Estado é necessária, mas os seus instrumentos não têm a indispensável adequação aos problemas dos desajustamentos de ordem interior”, explica Deolindo Amorim na obra citada. O movimento espírita sustenta as suas ações na educação e nos valores espirituais.
Os projetos ou atividades realizadas pela APSE, conforme o documento de Orientação ao Centro Espírita, são os seguintes:
– Acolhimento;
– Doação de gêneros alimentícios, vestuário, materiais e utilidades em geral;
– Organização de grupos de estudo, convivência, reflexão (trabalhar temáticas diversas);
– Realização de palestras socioeducativas.
Pode-se realizar parcerias e convênios com o poder público com o objetivo de ofertar serviços, para o público que atende, etc.
A Área de Assistência e Promoção Social Espírita é a principal área de um Centro Espírita?
Não é a principal. Considerando que não há Centro Espírita sem Espiritismo, a principal atividade da Casa Espírita é o estudo, a divulgação e a prática do Espiritismo. Entretanto, a APSE tem um papel de grande relevo nos Centros Espíritas, por meio do desenvolvimento de ações e projetos relacionados ao abandono infanto-juvenil, à violência, à drogadição, ao suicídio, ao aborto, à fome, à pobreza generalizada, à organização familiar e ao fortalecimento de vínculos familiares.
As Casas Espíritas que tiverem disponibilidade podem realizar atividades de assistência e promoção social espírita ou projetos sociais compondo, dessa maneira, a rede socioassistencial do município onde se localiza. Lembrando que, para qualquer ação social que a casa desenvolva, é preciso observar a vigência das leis que regulam a Política de Assistência Social no Brasil. Mesmo que a Casa Espírita não desenvolva grandes projetos, sua atuação sociorreligiosa pode integrar a rede socioassistencial local.
Importante pensar em ações transformadoras, que tenham impacto social na localidade onde serão desenvolvidas e que efetivamente promovam, social e espiritualmente, aqueles que participam das ações realizadas.
A atividade de assistência e promoção social espírita é uma das formas de colaboração do Movimento Espírita com a sociedade, mas não é o único, outra forma é a realização de simpósios, congressos, colóquios, diálogos interreligiosos etc.
Qual o significado de caridade no Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita?
Conforme consta da questão 886, de O Livro dos Espíritos:
“Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entende Jesus? — Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas”. Ela vai além da esmola, ou seja, deve estar carregada de amor. “O amor e a caridade são complementos da Lei de Justiça, pois amar ao próximo é fazer todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos nos fosse feito”.
A expressão da caridade, à luz do Espiritismo, reúne todos os elementos da promoção social, mas seu olhar vai além, para ver o outro em sua condição de Espírito perfectível e imortal e não apenas em seu aspecto material, ético, moral e social. É a promoção do ser humano em sua integralidade, numa perspectiva de sobrevivência e imortalidade. Portanto, a fundamentação espírita da assistência e promoção social é abrangida e revestida pelo conceito de caridade como entendia Jesus.