Por Allan Marques
Tema bastante delicado, mas de necessária abordagem no seio familiar, a morte ou desencarnação de um parente ou amigo sempre nos conduz a importantes reflexões acerca de nossa breve, mas valiosa passagem por este planeta-escola.
Em “Constelação Familiar”, Joanna de Ângelis afirma algo que é do conhecimento de todos nós, mas que teimamos em afastar de nossas cogitações: “a desencarnação faz parte da vida física”. Sabedores dessa realidade, precisamos entender, segundo a benfeitora, que se torna indispensável, na programação educacional da família, seja a morte estudada com a mesma consideração com que se examinam as demais questões tidas como de fundamental importância. Thereza de Brito, no capítulo 27 da obra Vereda Familiar, intitulado “Meditações sobre a morte”, informa que, na família cristã, as ideias da morte não deverão promover qualquer ruína, na vivência comum, pela compreensão de que a vida persiste exuberante para além dos liames carnais. Acrescentamos que nos agrupamentos iluminados pelo conhecimento espírita, esse entendimento se amplia e, apesar da saudade natural, a certeza de que continuamos vivos fora da matéria densa proporciona-nos o consolo e a coragem para seguirmos adiante.
Daí não fazer sentido a ojeriza ao tema “morte”, percebido em grande parte das famílias terrenas. Mais uma vez Joanna de Ângelis aponta para um comportamento ainda bem imaturo de nossa parte. Ela diz que “muitos pais preferem jamais abordar essa realidade com os filhos, como se com essa atitude estivessem impedindo a sua presença no momento oportuno”. Em verdade, ao adquirirmos a certeza da continuação da vida após o túmulo, a morte perde a sua força destrutiva, para assumir uma postura saudável na constelação familiar, conforme assevera a nobre missionária.
Allan Kardec, após a resposta dos Espíritos Superiores à questão 941 de O Livro dos Espíritos, que aborda o “temor da morte” esclarece que para o homem carnal, mais preso à vida corporal do que à vida espiritual, a felicidade consiste na satisfação de todos os seus desejos e que a morte o assusta porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças. Fica claro que necessitamos, em caráter de urgência, ressignificar a vida para desenvolvermos, em conjunto com os membros de nosso grupo familiar, uma melhor compreensão da morte e do morrer.
Por falar nisso, recordamos aqui a notável médica tanatologista, Dra. Elisabeth Kübler-Ross, que em seu best seller “Sobre a morte e o morrer”, afirma, ao falar dos pacientes terminais, que saber enfrentar esses dias e semanas cruciais depende muito da estrutura e união de uma família, da habilidade de se comunicar e da existência de verdadeiros amigos”. Isso demonstra o quanto o grupo familiar alinhado à proposta de amorosidade é importante em momento tão especial da experiência humana, ou seja, no período que antecede a desencarnação ou o “retorno para o lar verdadeiro” de um dos componentes do clã.
Retornando à fala de Thereza de Brito, vale destacar que na convivência do lar, é necessário cuidar de simplificar a compreensão da desencarnação (…) avaliando nosso cotidiano e as construções que estamos deixando no mundo, sem temores e sem horrores. Sugere, ainda, que “ao recordarmos os entes que demandaram o Além, busquemos os momentos de carinho, de trabalho, de alegrias, de amor, que com eles tenhamos convivido, envolvendo-os com as nossas vibrações de confiança em Deus, de ardente fé e de carinho, dando-lhes a cooperação dos nossos sentimentos onde quer que estejam”. Mas, será que temos conseguido extrair as grandes lições advindas da desencarnação em nossas famílias? O Espírito Camilo, no capítulo 28 da obra “Minha família, o mundo e eu” destaca que, embora a fatalidade dessa ocorrência – a da morte corporal – são bem poucos os indivíduos que dimensionam bem esse fenômeno, de modo que emprestem maior sentido às próprias existências, tratando de valorizar os dias de lutas e de aprendizados no planeta (…). Urge, portanto, despertarmos o quanto antes para o real propósito de nossa permanência (transitória) neste mundo!
Evocando novamente a nobre Dra. Kübler-Ross, agora em “A morte: um amanhecer”, concluímos essa breve reflexão compreendendo que há algo que todos temos de aprender antes de voltar para o local de onde viemos: amar incondicionalmente! Ela finaliza seu pensamento dizendo que “se você aprendeu e praticou isso, aprendeu a maior de todas as lições”.
O AUTOR
Secretário e Coordenador da Área da Família da FEMAR. Trabalhador da área de Estudo. Vice-presidente do Centro Espírita Luz, Caridade e Amor, em São Luís-MA, onde colabora nas áreas de Estudo, DIJ e Comunicação. Expositor espírita. É coordenador Adjunto da Área da Família da Comissão Regional Nordeste (CFN/FEB).