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Artigo de Allan Marques: A paz do Cristo e a pacificação do mundo

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Por Allan Marques

Queremos paz! Meu sonho é viver em paz! A Humanidade precisa de paz… É interessante observar como, nos tempos
atuais, expressões como essas têm ecoado pelas diversas partes do planeta, demonstrando o anseio da Família Humana pela paz. Mas precisamos nos questionar: de que paz estamos falando?

Jesus, na condição de Governador Espiritual da Terra, apresentou-nos, de forma muita clara, sua proposta de
pacificação, que não segue os padrões convencionais, retratada pelos evangelistas João e Mateus nas seguintes passagens: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Eu não vos dou como o mundo a dá” (João, 14:27) e “Não penseis que vim trazer paz sobre a terra. Não vim trazer a paz, mas a espada”(Mateus, 10:34).

Pois bem, o que podemos compreender a partir de então? Como perceber, à luz da Doutrina Espírita, a ideia de paz associada ao Cristo, o ideal de pacificação do mundo e a relação da família com esse processo?

Na obra O Evangelho segundo o Espiritismo, especificamente no capítulo IX (Bem-aventurados aqueles que são
brandos e pacíficos), Allan Kardec destaca os benefícios da afabilidade, doçura, obediência e resignação, apontando,
ainda, para os prejuízos advindos da cólera e da violência. Registra uma belíssima mensagem sobre A paciência”,
assinada por um Espírito amigo, que sabemos tratar-se da notável Joanna de Ângelis. Tudo isso para nos demonstrar que, sob a ótica crística, aquilo que se considera fraqueza, no mundo, é na verdade conquista do Espírito pacífico, e o que se vê como força, energia, não passa de conflito da alma ainda distante da proposta de pacificação.

Não é raro ouvirmos colocações do tipo: “ele é tão gentil, coitado, assim não vai para frente…”, ou ainda,
“fulana é uma doçura, as pessoas devem aprontar todas com ela”. São falas que retratam nosso descompasso
com a Lei Divina, pois demonstram a visão distorcida do que é bom, levando-nos a entender que a pessoa de Bem é quem perde por ser assim e que os fortes, entenda-se, agressivos, são os verdadeiros “vencedores”.

Vale destacar, nesta breve reflexão, a análise oportuna realizada pela já mencionada benfeitora, no capítulo 6 do livro O despertar do Espírito, acerca dos Conflitos do cotidiano. Informa-nos Joanna de Ângelis sobre a imposição das atividades hiperativas na sociedade atual e como isso tem contribuído para a sensação de angústia, “perdendo-se a paz” por não podermos mais parar, já que a vida corre e precisamos acompanhar o ritmo acelerado dos acontecimentos. Outro ponto que se observa é o da perda do silêncio exterior (ruídos de toda sorte) e a ausência da harmonia interna, gerando sensações desconfortáveis de desassossego na criatura humana, que tanto anseia pela paz!

Os conflitos do cotidiano, em verdade, são decorrência externa dos tormentos interiores do ser humano. Daí entendermos que a paz ofertada pelo Cristo não pode ser a mesma que o mundo nos oferece, já que o foco necessita estar direcionado para o íntimo, o interior de cada um. Pacificar o mundo interno, a fim de que o exterior possa refletir a harmonia, eis a proposta de Jesus, aí está o ideal a ser perseguido por todos nós!

Nesse sentido, o Espírito Emmanuel apresenta-nos vários esclarecimentos nas conhecidas obras da Coleção Fonte
Viva, psicografadas pelo amoroso e inesquecível Chico Xavier. Em Vinha de luz, por exemplo, ele reforça a necessidade de não confundirmos a paz do mundo com a paz do Cristo. Alerta-nos que, entre os encarnados, a preguiça
improdutiva e incapaz, a fuga ao trabalho, a satisfação dos próprios caprichos, assim como a destruição dos adversários são confundidas com esta dos de quietude. Quem nunca ouviu (ou pensou) que para se ter paz na sociedade seria interessante “eliminar” os malfeitores? Ou que aquele que vive tranquilo é o que não trabalha? Noticia o benfeitor que há muitos criminosos e indiferentes que desfrutam a paz do mundo e dirão que seguem muito bem… Ouçamos os amigos espirituais e não caiamos na ilusão das facilidades que atormentam!

Em outra de suas produções, Caminho, verdade e vida, na mensagem intitulada “A espada simbólica” , Emmanuel analisa a relação entra a paz e a espada, recordando Jesus em sua fala registrada por Mateus. Aponta para o conceito viciado de paz que temos alimentado, significando o alcance de garantias exteriores. O Mestre não poderia
endossar tal proposta, pois traz consigo a luta regeneradora, apresentando-nos a espada simbólica do conhecimento interior, exaltando a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo. Buscar, portanto, a paz da ociosidade é desviar-se da luz […] Lembremo-nos sempre da Lei Divina que nos conclama ao trabalho, à ação no Bem!

Sendo assim, falar em paz e pacificação do planeta, sob a perspectiva espírita, é também alargar a compreensão acerca de “mundo”. Há o “universo” íntimo, necessitado de quietude, assim como existem outros “mundos” onde a
demanda pela paz faz-se imprescindível. O que pensar, por exemplo, da constelação familiar? A família também pode ser percebida como um ambiente que carece de pacificação.

O Espírito Thereza de Brito, no magnífico livro Vereda familiar, ao comentar sobre os “Exercícios de paz no lar” , orienta-nos assim: “Busque não agredir com palavras ferinas ou com silêncios gelados aqueles que se põem à sua volta na luta doméstica. Não use gritos e expressões de violência”. Propostas simples e atualíssimas, que demonstram como ainda temos dificuldade em exercitar a paz do Cristo nas pequenas manifestações cotidianas dentro de nossos lares.

O tema é palpitante e nos enseja valiosas reflexões, fazendo-nos ampliar uma série de conceitos e saberes atinentes à relação harmônica que se almeja com familiares, amigos, colegas de trabalho, irmãos de outras crenças e culturas, enfim com o mundo à nossa volta. Mas não esqueçamos que o compromisso maior de conquista da paz deve ser assumido consigo mesmo! Concluímos, desta forma, mais uma vez contando com a sabedoria de Emmanuel,
relembrando suas palavras em Fonte viva, ao nos dizer que “viver de qualquer modo é de todos, mas viver em paz consigo mesmo é serviço de poucos”. Aceitemos o honroso desafio e construamos a paz, vivenciando o bem!

O AUTOR: é coordenador da Área da Família e Secretário da Federação Espírita do Maranhão. Colaborador da Área de Estudo da Federativa. Vice-presidente do Centro Espírita Luz, Caridade e Amor, em São Luís-MA, onde colabora nas áreas de Estudo, AIJ, Comunicação e Família. Expositor espírita. É coordenador Adjunto da Área da Família da Comissão Regional Nordeste (CFN/FEB).

* O texto foi publicado originalmente na revista espírita Deus Conosco, ano 2, número 12, NOV/DEZ 2022. Acesso: https://linktr.ee/revistaespiritadeusconosco

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