Por Ramsés Mesquita *
Certa vez, Jesus foi pregar em Nazaré, sua cidade natal conforme dados históricos, mas a sua palavra não foi bem recebida pelos judeus rigorosos, que O viam como um subversivo em relação às leis mosaicas, nem pelos senhores de terras, que identificavam-nO como um revolucionário comum, frente a Herodes. Os seus discípulos não gostaram desta situação, principalmente Pedro e Filipe, que respondiam com palavras fortes e rudes, a todas as ironias, gargalhadas, zombeteiras e ofensas dirigidas ao Mestre! O Rabi era chamado de impostor, feiticeiro, mago e filho de satanás pelos próprios nazarenos! “Foi quando, então, fez Simão Pedro a sua célebre pergunta: – ‘Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que lhe hei de perdoar? Será até sete vezes? ’ Jesus respondeu-lhe, calmamente: – Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” (1). Diante desse caso , perguntamos: qual é, de fato, a real extensão da máxima “até setenta vezes sete”, será 490 vezes?
A vida de Chico Xavier, o maior brasileiro de todos os tempos, segundo enquete nacional, é repleta de ensinamentos, não só sobre o Espiritismo, mas também sobre a moral espírita-cristã. Em determinada ocasião, o médium mineiro, depois de psicografar mensagens de instruções universais, no campo das virtudes, e também cartas particulares, que consolavam os familiares enlutados, recebia um a um todos os visitantes do Grupo Espírita da Prece para distribuir apertos de mãos, abraços, beijos e, principalmente, dar conselhos enobrecedores. Nesta hora especial, uma senhora de meia idade chegou ao Chico e falou-lhe que não sabia mais o que fazer, pois já havia perdoado o seu marido 490 vezes, conforme o resultado matemático da multiplicação de setenta por sete. Neste exato momento, apareceu Emmanuel, mentor espiritual de Chico, e disse ao seu protegido que a nobre irmã deveria perdoar 490 vezes todos os dias! Portanto, o perdão não é questão numérica e matemática, vai além.
Novamente, agora à sombra do abacateiro, local onde o médium costumava reunir as pessoas para realizar leituras de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, seguidas de comentários, Chico nos transmite outra interpretação a essa máxima evangélica. Certo dia, um dos ouvintes perguntou como deveria analisar o perdoar “setenta vezes sete vezes”, ao que o sábio Chico respondeu: “- É preciso perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete, matematicamente, 490 vezes. Lá pela centésima vez em que estivermos perdoando, falaremos: – ‘Você já está perdoado para sempre. Não vou ter o trabalho de perdoá-lo mais’.”(2). Perdoar sempre, está é a resposta! Sempre!
Na cultura hebraica o número sete é o símbolo da perfeição. Ele está presente em dezenas, centenas de versículos das escrituras sagradas do povo judeu e cristão. E nota-se claramente que nos capítulos da criação da Terra, por exemplo, o sétimo dia da formação do planeta é a representação do ápice do seu desenvolvimento geofísico e biológico.
Para se conquistar a perfeição, conforme o chamamento de Jesus na seguinte passagem: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial” (3), as virtudes devem ser aprimoradas eternamente! Não objetivando igualar a Deus, como pode parecer, o que é impossível, mas até ao ponto de assemelhar-se a Ele! Assim, o perdão necessita ser praticado todos os dias e para todo o sempre, até atingirmos a perfeição espiritual. As ofensas de ontem, de hoje e as de amanhã, todas precisam da chancela do perdão, para ascendermos espiritualmente, livres de ressentimentos, rancores, raivas e ódio, rumo ao reino de paz e de amor, prometido por Jesus há dois mil anos.
* É Secretário-Geral do Conselho Espírita Municipal de Imperatriz-MA (CEMI)
(1) Boa Nova – Humberto de Campos/ Francisco Cândido Xavier – Editora FEB
(2) As Vidas de Chico Xavier – Marcel Souto Maior – Editora Planeta
(3) Evangelho de Mateus, 5:48